segunda-feira, 9 de novembro de 2009

“ A SELECÇÃO EM ANDEBOL” Prof. Jorge Rito ABC

“ A SELECÇÃO EM ANDEBOL”
Um estudo no Académico Basket Clube (A.B.C.) nas categorias de infantis, iniciados e juvenis.

APRESENTAÇÃO
O trabalho que a seguir apresentamos não pretende ser mais do que um contributo singelo para o esclarecimento de algumas questões que rodeiam o processo de selecção de jovens para a prática do Andebol.
Pretendemos com este estudo proporcionar uma oportunidade para reflectir acerca do quadro teórico, metodológico e operacional da selecção no Andebol em geral, e em particular no A.B.C. de Braga.
O processo de identificação de jovens atletas de sucesso, no sentido de os incorporar em programas de treino organizados constitue uma das maiores preocupações dos peritos em Selecção e Colocação do desporto actual.
É também nesta área da investigação que os treinadores depositam maiores expectativas, no sentido de lhes serem dadas respostas a algumas preocupações provindas do contexto do treino, mais precisamente, as dúvidas a respeito dos aspectos que devem valorizar nas suas opções.
A pouca importância que este tema tem merecido em Portugal, não só ao nível da investigação, mas também como assunto de debate entre os treinadores, assim como os resultados do trabalho apresentado pelo A.B.C., tanto na equipa sénior, como nos escalões de formação, foram os principais motivos que nos levaram à realização deste estudo.
O A.B.C. tem sido, durante os últimos anos, uma das referências do Andebol em Portugal. Para além fronteiras, já conquistou uma imagem de grande credibilidade e prestígio. Em nosso entender, as principais razões que contribuíram para que hoje o A.B.C. tenha esse estatuto privilegiado estão associadas a dois aspectos fundamentais: os Resultados Desportivos da equipa sénior e a sua Escola de formação.
Relativamente ao primeiro aspecto, desde 1987 a 2006 a equipa principal do A.B.C. conquistou dez campeonatos nacionais, oito taças de Portugal, cinco super-taças, esteve presente numa final da Liga dos campeões, numa meia-final da Taça EHF e na final da Taça Challenge.
Quanto ao segundo aspecto, o trabalho realizado nos escalões de formação do A.B.C. é avaliado através de três critérios fundamentais:
O 1º critério tem a ver com a Quantidade de jogadores formados no clube que integram a equipa sénior. Nos últimos 10 anos, em média, por ano têm feito parte da equipa sénior cerca de 10 atletas formados no clube. Talvez esta seja uma excelente explicação para melhor se compreender a capacidade revelada para manter um nível competitivo tão elevado durante tantos anos. No momento actual dos 17 atletas que compõem o plantel sénior só um elemento não iniciou a sua prática do andebol no ABC.
O 2º Critério está relacionado com a Quantidade de jogadores formados no clube que representam ou representaram as várias selecções nacionais, e que em sua representação oficial, têm conquistado excelentes resultados internacionais:
- no ano 2000 obtiveram o 7º lugar no campeonato da Europa de seniores (6 jogadores), em 1992, 1º lugar no Campeonato da Europa de sub-19 anos (2 jogadores), em 1994, 2º lugar no Campeonato da Europa de sub-19 anos (4 jogadores) e 3º lugar no campeonato do Mundo de sub-21 (4 jogadores). Desde a época desportiva de 1987/88, foram seleccionados, e tornaram-se internacionais ao serviço das diferentes selecções nacionais 54 atletas que iniciaram a prática do Andebol no A.B.C.

- O 3º Critério tem a ver com a Quantidade de jogadores formados no clube que jogam noutros clubes da Liga Profissional. Na época desportiva 2005/2006, no campeonato da Liga Profissional, jogaram 17 atletas formados nas escolas do A.B.C., em representação de clubes como o Manabola, Porto, Madeira SAD, Belenenses e Águas Santas.
Com este estudo, pretendemos abrir as portas do nosso pavilhão, tornando mais transparente o trabalho que ali é desenvolvido por técnicos e atletas, e que tem estado na base dos sucessos alcançados.
Tendo em conta todos os aspectos referidos anteriormente, foram estabelecidos os seguintes Objectivos para este estudo:
1.Analisar a estrutura conceptual e operativa do processo selectivo dos treinadores dos escalões de infantis, iniciados e juvenis do A.B.C;
2.Definir perfis configuracionais para andebolistas dos escalões etários de infantis (10 aos 12 anos), iniciados (13 aos 14 anos) e juvenis (15 aos 16 anos), relativamente a um conjunto de variáveis: (1) Aptidão Física Geral; (2) Aptidão Física Específica; (3) Características Somáticas; (4) Indicadores de Força Explosiva dos Membros Inferiores e (5) Habilidades Motoras Específicas do andebol.
A orientação do nosso estudo, face aos objectivos definidos, gera um corpo de hipóteses, que passamos a enumerar:
1.Os treinadores do A.B.C. possuem uma organização conceptual relativa à estrutura e hierarquia dos factores de performance nos escalões de infantis, iniciados e juvenis;

2.Os atletas pertencentes aos escalões de infantis, iniciados e juvenis evidenciam diferenças morfológicas e funcionais que correspondem aos diferentes graus de exigências de treino e competição.
Para a consecução da parte experimental deste estudo utilizámos uma amostra constituída por Treinadores e Atletas.
A amostra dos treinadores do A.B.C. que responderam aos questionários é constituída por 5 sujeitos, responsáveis técnicos pelos escalões de infantis (2), iniciados (2) e juvenis (1).
Relativamente aos atletas, este trabalho foi realizado com uma amostra de oitenta e oito indivíduos do sexo masculino de idade cronológica compreendida entre os 10 e os 16 anos, praticantes de andebol no Académico Basket Clube de Braga (A.B.C.).
Todos os sujeitos da amostra estão distribuídos por três escalões existentes na modalidade de andebol: Infantis (com idade cronológica entre os 10 e os 12 anos, n=25), Iniciados (entre os 13 e os 14 anos, n=34) e Juvenis (entre os 15 e os 16 anos, n=29).
Foi elaborado um Questionário para os treinadores, que pretendeu abordar cinco dimensões essenciais desta parte do estudo:
1)Identificação exaustiva dos treinadores dos escalões de formação do Académico Basket Clube;
2)Identificação e hierarquização dos factores da performance desportiva;
3)Identificação e hierarquização dos métodos de selecção;
4)Identificação dos indicadores de selecção;
5)Caracterização, por posto específico, de factores de rendimento.

O estatuto maturacional dos atletas foi determinado com base na avaliação dos caracteres sexuais secundários, nos escalões de infantis e iniciados.
A Avaliação das medidas somáticas inclui 23 medições corporais, incluindo, além da altura e do peso, comprimentos, diâmetros, perímetros e pregas de adiposidade subcutânea.
A Composição corporal foi determinada através do fraccionamento da massa corporal em dois compartimentos, massa magra (M. Magra) e massa gorda (M. Gorda).
A determinação do Somatótipo foi efectuada de acordo com a técnica antropométrica de Heath & Carter (1967) e o cálculo das componentes baseou-se nas equações propostas por Ross & Marfell-Jones (1983).
Para a avaliação da Aptidão Física Geral e Aptidão Física Específica dos sujeitos utilizámos testes de diferentes baterias, tais como AAHPERD (1987), EUROFIT (Grosser, Manfred e Starischka, 1988) e de Seco/Maldonado (1989).
A avaliação da Força Explosiva dos membros inferiores foi realizada de acordo com o protocolo descrito por Bosco et. al. (1983).
A avaliação das Habilidades Motoras Específicas foi efectuada de acordo com um circuito elaborado por Seco e Maldonado (1989).
Nesta prova de habilidade técnica pretendeu-se medir, utilizando distintos aspectos técnicos do jogo, a qualidade técnica geral dos atletas associada a um conceito de resistência específica, onde entram componentes de coordenação, capacidade de concentração, estado de ansiedade, nervosismo, etc. Esta prova consiste em realizar um circuito técnico no menor tempo possível.
Relativamente aos Procedimentos Estatísticos utilizados, a descrição genérica dos dados foi realizada de acordo com os procedimentos habituais: percentagens, médias e desvios-padrão.
A análise exploratória inicial dos dados, bem como os pressupostos dos testes estatísticos foi feita de acordo com as técnicas habituais: estudo da normalidade e detecção de outliers, bem como da verificação da homogeneidade variância.
As estimativas de fiabilidade foram calculadas com base no coeficiente de correlação intra-classse.
O estudo das médias para os diferentes indicadores entre categorias competitivas foi realizado a partir da Análise de Variância.
O software estatístico utilizado foi o SPSS 10.0.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
A Primeira parte desta apresentação centra-se na análise das respostas dos treinadores aos questionários, e na Segunda parte são abordados os resultados do estudo centrados nos atletas.

Com o presente estudo, o que se pretendia conhecer, quando se questionaram os treinadores da formação do A.B.C. era quais os referenciais de decisão em que se baseiam para seleccionar os jovens jogadores, e se estes referenciais se encontram minimamente de acordo com o que está descrito na literatura e com as linhas orientadoras do Clube.

Os resultados dos questionários serão apresentados pela seguinte ordem:
1.Identificação dos treinadores
2.Importância e Hierarquia dos factores de rendimento
3.Importância dos Indicadores de rendimento
4.Métodos de Selecção
5.Características referidas por posto específico
Quanto à identificação dos treinadores, e nomeadamente os aspectos relacionados com a idade, habilitações literárias, e profissão, observa-se o seguinte: a maioria dos treinadores, 80%, situa-se entre a faixa etária dos 30 aos 38 anos; só um tem 47 anos. Todos têm formação superior, três são licenciados em Educação Física, 60%, um em Informática e um outro em Ciências da Educação.
O número de anos de prática desportiva dos treinadores como jogadores varia dos sete aos treze anos. Os escalões em que jogaram situam-se entre os iniciados e os seniores. Nenhum dos inquiridos praticou andebol no escalão de infantis. O nível de competição em que jogaram é diverso. Nos escalões jovens (iniciados, juvenis e juniores) a prática foi sempre realizada ao nível da 1ª divisão nacional. Nos seniores a prática estende-se desde a 3ª até à 1ª divisão nacional. Como praticante de alto nível, nove anos no campeonato nacional da 1ª divisão, há somente um treinador, do total dos inquiridos.
Enquanto treinadores de clubes a experiência dos sujeitos varia entre os dois e os quinze anos de prática. A maior parte dos treinadores, 80%, apresenta uma experiência assinalável de trabalho em escalões de formação, que varia desde os oito até aos quinze anos de prática. Dos cinco treinadores somente um desempenhou esta função no escalão de seniores. A maioria dos treinadores, 80%, só orientou equipas de infantis, iniciados, juvenis e juniores.
Na função de treinadores de selecções encontramos três indivíduos, que já desempenharam essas tarefas a níveis diferentes. Um treinador foi responsável durante seis anos por várias selecções nacionais (sub-17, sub-18 e sub-21), e dois orientaram selecções a nível regional, sendo nestes casos experiências de trabalho significativas, respectivamente de sete e cinco anos. Só dois treinadores, não foram seleccionadores.
Os treinadores apresentam níveis de formação variados: 40% têm o curso de 2º grau, 20% tem o nível correspondente ao 3º grau e 40% possuem o nível de 4º grau.
A Segunda questão do questionário está relacionada com a Importância e Hierarquia dos Factores de Rendimento. Segundo o seu entendimento, os treinadores atribuíram uma classificação em função da escala sugerida no questionário: 1- nada importante, 2 – pouco importante, 3 – importante, 4 – muito importante e 5 – muitíssimo importante.
Para uma análise conjunta da importância dos factores de rendimento, somámos os valores atribuídos pelos treinadores do mesmo escalão para os diferentes factores de rendimento nas três categorias estudadas.
Nessa análise verifica-se que:
1.Os factores antropométricos assumem, no decorrer de todo o processo de formação, um papel decisivo nas decisões que tomam os treinadores no âmbito da selecção de jogadores;
2.Os factores condicionais são considerados mais importantes à medida que se verifica a subida de escalão;
3.Os factores coordenativos apresentam um quadro “evolutivo” completamente inverso ao anterior, decresce a sua importância com a subida de escalão;
4.Os factores técnicos, psicológicos e sociais tornam-se mais importantes no processo de selecção dos jovens andebolistas com a passagem de escalão.
5.Os treinadores dos diferentes escalões partilham a mesma opinião acerca da importância a atribuir aos factores de rendimento.

Para identificar o grau de importância dos factores de rendimento, através da sua organização hierárquica, pelo conjunto dos diferentes treinadores das três categorias estudadas, utilizamos a seguinte metodologia: atribuímos sete pontos ao factor de rendimento colocado na 1ª posição, seis pontos para o factor colocado na 2ª posição, e assim sucessivamente. Somámos os valores atribuídos pelos treinadores de cada escalão, e determinámos a importância dos factores de rendimento para cada categoria. No caso do treinador de juvenis multiplicámos por dois os valores atribuídos.
Os resultados obtidos permitem concluir que os treinadores da formação do A.B.C. partilham o mesmo entendimento relativamente à importância que os factores antropométricos, condicionais e coordenativos têm no processo de selecção de jovens andebolistas.
Na terceira questão, acerca da Importância dos Indicadores de selecção, considerámos 15 indicadores de selecção que abrangem os seguintes factores de rendimento: (1) somáticos, (2) de aptidão física, (3) técnicos e (4) psicológicos.
Para obter os resultados apresentados, somámos os valores atribuídos pelos treinadores do mesmo escalão para os diferentes indicadores de rendimento, nas três categorias estudadas. Os valores apresentados pelo treinador dos juvenis passaram para o dobro em virtude de só haver um treinador para este escalão.
A interpretação dos dados resultantes das respostas dos treinadores a esta questão permite-nos a seguinte leitura:
1.O conjunto dos treinadores considera que para o escalão de infantis os indicadores de selecção mais “valiosos” são a altura, agilidade/destreza e coordenação;
2.Para o escalão de iniciados, a preferência dos treinadores recai novamente sobre os indicadores já mencionados para o escalão de infantis acrescidos do indicador de motivação;
3.Na categoria de juvenis verifica-se que à excepção dos indicadores de % de massa gorda, peso e flexibilidade, os restantes são considerados fundamentais, para todos os escalões etários. Os indicadores de altura, força dos membros superiores e técnica apresentam uma ligeira supremacia em relação aos demais.

Na Quarta questão, sobre quais os Métodos de Selecção mais utilizados pelos treinadores dos escalões de formação do A.B.C. conclui-se que eles são prioritariamente as medições antropométricas, observação casuística do jogo e a realização de testes motores diferenciados. A maioria dos treinadores utiliza três métodos distintos de selecção; somente um treinador utiliza quatro. A grelha de observação de jogo é apenas utilizada por um treinador, enquanto que nenhum dos treinadores se serve de testes psicológicos para seleccionar atletas. O facto de nenhum dos treinadores referir a utilização de testes psicológicos revela alguma incoerência em relação à posição de importância assumida pelo indicador de motivação para o escalão de iniciados.
Os treinadores do A.B.C. apresentam alguma uniformidade entre os métodos referidos por grau decrescente de importância. Os testes motores diferenciados são colocados por três treinadores na primeira posição, logo seguidos dos métodos de medições antropométricas também referenciados por três treinadores na segunda posição.
Estes resultados apresentam-se em conformidade com o que atrás foi descrito relativamente à importância que assumem, para cada um dos treinadores, os factores de selecção. Os métodos de selecção escolhidos como os mais importantes (testes motores e avaliações antropométricas), permitem avaliar os indicadores, considerados “mais valiosos” pelos treinadores, como sejam a altura, agilidade/destreza e coordenação.
Por fim, na última questão do inquérito colocada aos treinadores pretende-se conhecer quais as Características Indispensáveis que devem ter os jogadores em função do seu posto específico, em cada escalão etário.
Na opinião dos treinadores do escalão de infantis os factores condicionais de agilidade/destreza e coordenação, assim como os factores psicológicos de motivação e espírito de sacrifício, são referenciadas pelos treinadores para todas as posições específicas. A altura é considerada muito importante para os laterais, pivot, central e guarda-redes.
Os treinadores dos iniciados consideram que a força dos membros inferiores e superiores, velocidade de reacção, coordenação e motivação são fundamentais para todos os postos específicos. A altura também é considerada muito importante para os laterais, centrais, pivots e guarda-redes.
Os factores técnico-tácticos são utilizados para caracterizar essencialmente os jogadores de 1ª e 2ª linha.

Os factores antropométricos (altura), condicionais (força dos membros superiores e inferiores e resistência) e psicológicos (espírito de sacrifício e motivação) são considerados igualmente importantes para caracterizar os jogadores de todas as posições específicas do escalão de juvenis

Os resultados centrados nos atletas

No sentido de definir os perfis configuracionais dos atletas dos três escalões estudados, avaliámos um conjunto de variáveis (Aptidão Física Específica, Aptidão Física Genérica, Habilidades Motoras Específicas, Força Explosiva dos Membros Inferiores e Características Somáticas) que nos permitissem analisar e comparar os resultados dos andebolistas pertencentes a cada escalão por posição específica e entre os diferentes escalões etários.
De salientar o número reduzido de atletas por posição específica em cada escalão, o que nos obriga a contar com estes resultados apenas como referências.
No escalão de Infantis, nos testes de Aptidão Física Genérica e Específica, são os jogadores que ocupam as posições de laterais que se destacam com resultados, na maioria dos testes, superiores à média do escalão. No circuito técnico, foram os centrais os mais eficientes, e os guarda-redes os menos eficientes. O estudo da Força Explosiva do Membros Inferiores, mostrou que os laterais foram os atletas com melhores resultados nas três dimensões desta variável (componente contráctil, componente elástica e potência mecânica média).
No escalão de Iniciados, nos testes de Aptidão Física Genérica os laterais apresentam melhores resultados em 4 dos 5 testes. A avaliação da Aptidão Física Específica neste escalão mostrou que, conjuntamente com os laterais, também os pivots obtiveram os melhores resultados na maioria dos testes. Na prova de habilidade, repetiu-se o que já tinha sucedido no escalão de infantis: os centrais necessitaram de menos tempo para a realização do teste, e os guarda-redes foram os jogadores que despenderam de mais tempo. A avaliação da força explosiva neste escalão, permite observar resultados claramente superiores dos jogadores laterais nos saltos S.J. e C.M.J., enquanto os guarda-redes no salto de P.M.M: mostraram os melhores resultados.
Nos Juvenis, os pivots e laterais mostraram os melhores resultados em dois dos cinco testes na Avaliação da Aptidão Física Geral. Os jogadores guarda-redes e centrais alcançaram resultados superiores à média em 2 dos 5 testes. O teste de habilidade revelou que os pontas foram os atletas que menos tempo precisaram para cumprir o circuito, enquanto os guarda-redes, tal como já tinha acontecido nos escalões de infantis e iniciados, foram os jogadores que necessitaram de mais tempo. A avaliação da Força Explosiva nos juvenis mostra-nos que são os pontas que para o salto S.J. apresentam os melhores resultados, enquanto que no salto C.M.J. constata-se alguma semelhança nos resultados do laterais, pontas e pivots. No salto de P.M.M. os centrais conseguiram resultados superiores aos restantes atletas.
Como podemos observar os resultados das avaliações da Aptidão Física Genérica, Aptidão física Específica, Habilidades Motoras e força Explosiva, diferem no interior de cada escalão etário, em função das posições específicas que cada jogador ocupa, e também entre os diferentes escalões.
Os dados fornecidos pela avaliação da Composição Corporal, permite-nos afirmar que não se verificam diferenças assinaláveis entre os três escalões na percentagem de massa gorda, no entanto, em relação aos indicadores de massa gorda e massa magra os valores apresentados variam consideravelmente consoante o escalão etário.
Relativamente à Morfologia Externa do Corpo (Somatótipo) e particularmente às suas várias componentes, pudemos constatar que nos diferentes escalões etários houve uma prevalência da componente mesomórfica.
Os valores apresentados pelos atletas do estudo, para a Altura são de uma forma geral coincidentes com os resultados de diferentes autores. Registamos o facto de já serem os jogadores laterais, dentro de cada escalão etário, os mais altos o que sugere a presença do factor selecção.
Dentro dos limites do presente estudo (conceptuais, metodológicos e amostrais) e tendo em consideração os resultados apresentados, podemos concluir que:
1.Os treinadores do A.B.C. partilham a mesma concepção no que se refere à importância a atribuir aos factores de rendimento no contexto particular do escalão de infantis e iniciados (antropométricos, coordenativos e condicionais). No escalão de juvenis os treinadores apresentam uma posição concordante, entre si, relativamente aos factores de rendimento mais importantes (antropométricos, técnicos e condicionais).
2.Os factores antropométricos assumem, no decorrer de todo o processo de formação, um papel decisivo nas decisões que tomam os treinadores no âmbito da selecção de jogadores. Neste aspecto particular, os treinadores apresentam uma comunhão de ideias, que se identificam com as de outros autores, e com as orientações técnicas do clube.
3.Os factores condicionais, técnicos, psicológicos e sociais são considerados mais importantes à medida que se verifica a subida de escalão.
4.O conjunto dos treinadores considera que no âmbito do escalão de infantis os indicadores de selecção mais “valiosos” são a altura, agilidade/ destreza e coordenação. No escalão competitivo de iniciados, a preferência dos treinadores recai novamente sobre os indicadores mencionados para os infantis acrescido do indicador motivação. No contexto do escalão de juvenis, os treinadores consideram os indicadores da altura, força dos membros superiores e técnica mais importantes que os restantes.
5.Os treinadores do A.B.C. utilizam diferentes métodos para recolher informações objectivas dos jovens andebolistas. Os métodos mais utilizados são as medições antropométricas, a observação casuística do jogo e os testes motores.
6.A altura é o indicador antropométrico que na opinião da generalidade dos treinadores pode ajudar a caracterizar melhor os atletas. Os indicadores de força com a subida de escalão vão ganhando cada vez maior protagonismo na caracterização dos atletas em todas as posições específicas. O indicador motivação surge como um elemento fundamental na caracterização dos andebolistas de todos os escalões etários e para todas as posições específicas.
7.Apesar dos bons resultados obtidos nos escalões etários mais jovens do A.B.C., e dos treinadores revelarem alguma sintonia no processo de identificação e selecção de jovens andebolistas, verifica-se a ausência de um documento director escrito. Este instrumento de trabalho deve contemplar informações detalhadas e rigorosas acerca dos métodos, testes e critérios de selecção a utilizar em função do quadro de exigências determinadas para o clube.
8.Nos testes de Aptidão Física Geral e Aptidão Física Específica realizados, verificam-se diferenças significativas dos resultados quer entre os escalões competitivos, quer no interior da cada escalão, em função da posição específica.
9.Nos testes de Força Explosiva e das Habilidades Motoras Específicas, os resultados evidenciam diferenças assinaláveis entre o escalão de infantis e os de iniciados e juvenis.
10.No conjunto dos testes realizados, nas três categorias competitivas, os andebolistas que ocupam as posições de laterais apresentam, de uma forma geral, os melhores resultados.
11.Os três grupos de andebolistas considerados neste estudo apresentam perfis configuracionais distintos no que se refere às dimensões corporais.
12.Os andebolistas que jogam nas posições de lateral e pivots apresentam, em todos os escalões etários, valores para a altura, peso e diâmetro palmar superiores aos jogadores de outras posições.
13.Relativamente ao somatótipo, os três grupos competitivos não apresentam diferenças.
14.As diferenças somáticas entre os andebolistas de diferentes escalões etários devem-se sobretudo à dimensionalidade e não à tipologia morfológica captada pelas componentes do somatótipo.
15.Nas medidas de massa é visível alguma proximidade de valores da % de massa gorda, entre os três grupos de atletas, e diferenças significativas nos valores de massa magra e massa gorda.

Para futuros estudos nesta área podemos sugerir que:

Os treinadores atribuam um valor aos seus atletas numa escala de um a vinte, dando-lhes uma classificação dentro do grupo. Verificar se os atletas mais valiosos dentro de cada equipa, são também aqueles que apresentam, no conjunto das várias avaliações, os melhores resultados. Pretende-se com este trabalho, confrontar a opinião empírica e subjectiva do treinador com informações objectivas e rigorosas provenientes da investigação.
Sugere-se que se inclua no estudo uma avaliação psicológica dos atletas


Jorge Rito
jorgerito@yahoo.com