terça-feira, 24 de novembro de 2009

SER ARBITRO DE ANDEBOL -AAB.Fernando Ferrão Ex-Arbitro Elite

PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA

O bom desempenho dos árbitros nos jogos é condicionado por vários factores, nomeadamente físicos e psicológicos.
O comportamento do arbitro seráá determinado por:
- Suas características psicológicas;
- Capacidade de responder às exigências técnicas especificas do andebol;
- Capacidade de se adaptar às condições situacionais em que trabalha;
- A sua conduta é condicionada pelas circunstâncias da sua vida exterior à modalidade;
- A sua actuaçção apenas se exerce sobre determinada áárea da modalidade, já que parte do processo lhe é alheio: processos de treino e organização, não obstante estes terem um grande impacto sobre o seu trabalho.
O árbitro de adquirir conhecimentos adicionais às leis de jogo, tais como, técnica / táctica, processo de treino, etc..

COMO OPTIMIZAR O SEU DESEMPENHO
- Desenvolver as suas qualidades fíísicas

Não basta aos árbitros prepararem-se para realizarem os testes físicos no início de cada época, e, ainda por cima, testes completamente desadequados para a realidade do andebol.
O árbitro tem que ter um plano de treino semanal, pois é sabido que a fraca condição física influencia o seu desempenho em campo, tornando as reacções tardias e desadequadas, contribuindo para o aumento do ““erro””, que nãão se deseja.
Chamo a atenção para o trabalho do companheiro Jorge Manuel, que elaborou um plano de treino para os árbitros (ver site da Apaoma)
Só não treina quem não quer.

- Conhecimentos técnicos
Todos os árbitros pensam que sabem as regras –– no plano teórico é verdade.
Mas é necessária uma constante leitura das mesmas para se ir percebendo o alcance das diversas leis de jogo.
Durante um jogo acontecem diversas situações em que os árbitros, senão adoptarem um estudo continuado das regras, têm mais probabilidades de cometerem erros de julgamento e quiçá erros técnicos.
Aconselho todas as duplas a reunirem-se periodicamente para debaterem determinadas regras, nem que seja quando se desloquem para os jogos.
Ao fim de 30 anos de actividade ainda hoje o fazemos.
Infelizmente é mais fácil criticar as actuações dos colegas do que falar de ANDEBOL.
Além do estudo das regras os árbitros devem frequentar reuniões de formação, vulgo reciclagens, para debaterem todos os assuntos que lhes dizem respeito.
Penso que existem poucas acções de formação para áábitros e quase nenhumas para jogadores, treinadores e oficiais das equipas.
A formação deve ser encarada com muita responsabilidade por quem de direito.
Além do órgão mááximo da modalidade organizar algumas acções de formação durante a época –– normalmente duas –– devem as Associações regionais tomarem seu cargo efectuarem diversas acções de formação durante a época.
Essas acções devem ser dirigidas prioritariamente aos árbitros mas alargada a treinadores, jogadores e oficiais de equipa.
- Técnicas específicas à sua função
Como é sabido, para aplicação correcta das leis de jogo existem mecanismos auxiliares que se denominam ““técnicas de arbitragem””.
Há muitos erros imputados aos árbitros que têm a ver mais com a técnica de arbitragem do que com a aplicação de determinada regra de jogo.
Um árbitro que saiba todas as regras mas que tenha uma deficiente técnica de arbitragem, nunca será um bom árbitro.
A técnica de arbitragem treina-se –– lendo, visionando jogos (tv e vídeo) e assistindo a jogos.

- Trabalho das suas qualidades psicológicas de uma forma sistemática e organizada
Não há dois árbitros iguais –– mesmo numa dupla, as características psicológicas são diferentes, mas podem ser complementares.
Claro que uma dupla que actue há muito tempo junta, têm obrigação de se ““conhecerem”” melhor e se ““complementarem””.
Mas é normal ver-se dois árbitros, que não actuam juntos, um deles ser o ““dono”” do jogo, mercê das suas características psicológicas.
Também é verdade que acontece o mesmo com algumas duplas que normalmente actuam em conjunto.
Nada mais errado!
Deixa transparecer que um deles, psicologicamente, é mais frágil, e muitas vezes isso não é verdade –– é um problema de personalidade e estilo.
É neste campo que devem trabalhar em conjunto.

MOTICAÇÕES INADEQUADAS
- Fraca motivação
A preparação de um jogo começça quando é publicada a sua nomeação.
Todos os árbitros querem apitar os melhores jogos ou os jogos mais importantes.
Começam aqui os problemas da motivação.
Quantos de nós, quando sabemos as nomeações pensamos: ““outra vez este ou aquele clube?””; ““outro jogo de iniciados ou juvenis?””; ““outro jogo da 3ªª divisão?””
Ao invés deste pensamento negativo, devemos pensar positivo: ““isto deve ser um jogo importante para eu ser nomeado para lá”.
Na maioria dos casos, quem nomeia está de posse de muitos elementos que os árbitros desconhecem –– classificação, rivalidades, neutralidades, característica do jogo compatível com determinada dupla, etc…….
Temos que encarar todos os jogos com a mesma determinação –– sei que não é fácil, mas é o melhor caminho para o êxito.
Também quem nomeia tem que ser rigoroso e não olhar a determinados ““interesses”” – o que, infelizmente, nem sempre acontece.
- Motivação negativa
Pior que fraca motivação é a motivação negativa –– quando um árbitro pensa que o jogo é “fraco demais”” para a sua categoria, estáá traçado o seu destino –– irá concerteza ter um mau desempenho.
- Motivação Exagerada
É a antítese da anterior e também contribui para o inêxito do árbitro.
Quando se capacita que é o maior, que tudo vai correr bem, que ele controla tudo …… o erro será o seu ““companheiro”” durante todo o jogo. Estará desconcentrado, sobranceiro e incapaz de ““ler”” o jogo.
- Medo de fracassar
Existem pessoas com personalidade negativista –– tudo lhes corre mal.
Um árbitro com estas características raramente terá um bom desempenho.
Terá mais dificuldades em auto-motivar-se, pelo que o seu companheiro tem um papel fundamental –– não se deixar influenciar por aquele estado de espírito e dar-lhe motivação adequada para aquele jogo. Todos os árbitros têm que trabalhar em equipa –– o êxito depende deste factor.
O ““medo”” é um estado de espírito!
Deve ser combatido no quotidiano, dentro e fora do campo.
Um árbitro que váá para um jogo com o pensamento que tudo lhe vai correr mal……. Vai correr de certeza.
Durante o jogo irá encontrar diversos bloqueios de raciocínio que vão influenciar negativamente o seu trabalho.
- Estabelecimento de objectivos irrealistas
Todas as pessoas traçam objectivos na sua vida –– os árbitros não são excepção.
Temos é que o fazer de uma forma realista –– devemos ser ambiciosos mas prudentes.
Todos sabemos quem nem todos os árbitros podem chegar à categoria de ““internacionais””, pois isso depende de vários factores e, nem sempre, a qualidade do árbitro basta para alcanççar esse objectivo.
Portanto, devemos traçar objectivos realistas, sob pena de nos sentirmos desmotivados e, como acontece frequentemente, essas pessoas abandonam a carreira de árbitro.
Aqui tem um papel fundamental os dirigentes dos árbitros –– devem ter um papel sério e isento, não fazerem ““promessas”” que normalmente não cumprem.
- Dependência de factores externos e incontroláveis
Todos estamos sujeitos a factores externos ao jogo que não controlamos.
Devemos estar preparados para estas situações.
O árbitro que se deixe influenciar por estes factores terá concerteza um mau desempenho.
Não deve ser apanhado desprevenido, tem que estar preparado para todas as eventualidades.

CORRECTA PREPARAÇÃO DOS ASPECTOS MOTIVACIONAIS
- Auto-influenciar-se
O árbitro deve ter a capacidade de se auto-influenciar e bloquear-se a influências externas, normalmente negativas.
As influências externas visam, normalmente, desestabilizar o árbitro com objectivos bem definidos.
É profundamente negativo os delegados técnicos abordarem os árbitros antes e durante o jogo (intervalo), excepto se algo de grave tenha acontecido,
Por experiência pessoal, penso que os delegados técnicos não devem falar com os árbitros –– eles estão ali para classificarem o desempenho dos árbitros.
Posteriormente, os organismos responsáveis pela competição deverão elaborar um relatório a enviar aos árbitros no sentido de ““corrigirem”” determinados aspectos negativos, que na opinião do delegado téécnico possam ter ocorrido, ao mesmo tempo deve dar-se aos árbitros a oportunidade de fazerem a sua autoavaliação e rebater, se for caso disso, a opinião do observador –– isso, infelizmente, nunca acontece, pois muitas das vezes o árbitro e o observador ““vêm”” jogos diferentes.
- Ser independente de pressões e orientações externas
Deve ser vedado a toda e qualquer pessoa. Nomeadamente a árbitros e dirigentes o acesso aos árbitros que vão dirigir determinado jogo, antes e depois do encontro.
Não vamos ingénuos e dizer que ““não há problema””; ““ a convivência é salutar”” etc. etc.
Tudo isto é verdade –– mas noutros locais que não o do jogo.
O árbitro recebe, anualmente, no início de cada época, as orientações técnicas e organizativas para todas as provas. Eventuais orientações complementares serão fornecidas por quem de direito.
Por isso o árbitro deve rejeitar todas as ““pressões”” e ““orientações”” que sempre surgem nos jogos importantes, nomeadamente, nos que decidem algo.

- Ser responsável pelo seu comportamento e resultados
Todo o árbitro deve ter um comportamento irrepreensível, dentro e fora do campo –– todos sabemos que ao mínimo pretexto, são alvo dos mais diversos comentários, normalmente injusto e fruto da ““nossa mentalidade””.
- Auto Critica
É fundamental, após os jogos, a equipa de arbitragem, analisar o jogo.
Verificarem o que correu menos bem e tentarem corrigir essas situações.
Se tiverem acesso ao ““vídeo”” do jogo melhor, terão um instrumento de trabalho muito valioso para a sua análise e auto avaliação.
PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA ACTUAR
- Correcto descanso antes dos jogos
O descanso e tranquilidade são fundamentais para o bom desempenho dos árbitros.
As ““noites mal dormidas””, ““as farras”” etc.. nos dois dias anteriores aos jogos, influenciam negativamente o desempenho dos árbitros. E não estou só a falar no numero de horas de sono –– pois cada pessoa é um caso –– mas se o árbitro esta habituado a dormir oito horas, acordando, por exemplo áás 8.30H, não é a mesma coisa que se deitar às três horas da manhã e acordar às 11 horas.
O seu relógio biológico foi alterado e terá, concerteza, influência no seu comportamento.
- Alimentação adequada no dia do jogo
Todos sabemos que os jogadores Têm um alimentação especifica ao seu estatuto de desportistas.
Porque razão os árbitros devem ser diferentes?
Será que comer uma ““feijoada”” antes de um jogo melhora o seu rendimento? NEGATIVO –– vai concerteza influenciar negativamente o seu desempenho, assim como a ingestão de bebidas alcoólicas devem ser eliminadas.
- Deslocação atempada para o local do jogo
O árbitro deve deslocar-se com a devida antecedência para o local do jogo.
A pressa, o chegar em cima da hora, etc. aumenta o stress e os níveis de ansiedade dos árbitros.
Se o árbitro chegar ao local do jogo com a devida antecedência, deverá efectuar uma caminhada de descontracção e laser.
É profundamente negativo um árbitro ser nomeado para dois jogos no mesmo dia, se um deles é de importância relevante, pois vai contrariar todo o exposto atrás.
É frequente ver-se os árbitros a correrem de um pavilhão para outro, muitas vezes sem tempo para tomarem banho.
- Concentração para as tarefas que vai desempenhar
Ser árbitro não é tarefa fácil!
À menor desconcentração surge o erro.
Nenhum árbitro convive pacificamente com o erro.
Por isso se exige a máxima concentração antes e durante os jogos para o bom desempenho da função.
Antes do encontro é fundamental o árbitro, a exemplo dos jogadores, efectuar o aquecimento muscular.
O árbitro que ““entre a frio”” no jogo, diminui o tempo de reacção e, portanto, a probabilidade de cometer erros aumenta.
- Dialogar com o companheiro sobre todos os aspectos relacionados com o jogo.
É frequente quando nos deslocamos para os jogos trocarmos impressões sobre o jogo que vamos realizar.
É fundamental isso acontecer.
Combinar estratégias –– os jogos não são todos iguais. E se o oficial de mesa acompanhar os árbitros, deve ele também dialogar sobre todos os aspectos relacionados com o jogo que vão dirigir.
Estamos assim melhor preparados para actuar em equipa.
- Tranquilidade
Um dos pressupostos para um bom desempenho é o árbitro estar tranquilo.
Aparentar nervosismo pode influenciar negativamente o seu desempenho, nomeadamente no relacionamento com os outros agentes, tais como jogadores e oficiais de equipa.
- Determinação
O árbitro tem que ser determinado na sua actuação.
Não deixar dúvidas a ninguém sobre as decisões que toma durante o jogo.
Não se deve mostrar indeciso e muito menos receoso.
Uma forma de mostrar a sua ““determinação”” é com atitude firme, não autoritária, nomeadamente nos gestos manuais.
Nota final:
Este artigo vai direccionado, prioritariamente, aos árbitros, nomeadamente, os que estão no iníício das suas carreiras.
Espero contribuir para que tenham uma carreira longa e recheada de êxitos.

BOM TRABALHO!
Fernando Ferrão
Árbitro Elite